segunda-feira, 16 de junho de 2008

Sensibilidades Crepusculares – Goulart de Andrade


Os movimentos decadentistas, ao sabor Fin de Siècle, alcançaram o nosso teatro: sua maior vítima foi o poeta Goulart de Andrade (1881-1936), cuja sensibilidade doentia se espraiou em Alexandrinos de má literatura.
Goulart de Andrade é sintomático de uma tendência teatral, o dramaturgo que exprimiu, num extremo de irremediabilidade cênica, o gosto deliqüescente dos sentimentos serôdios.
Renúncia, um ato curto, baseado num conto de Oscar Lopes, basta-se com três personagens: Ester, mãe viúva; seu filho Cláudio, de 20 anos e Laura, outra viúva, de 36 anos. A escolha das criaturas sugere o conflito pretendido. O núcleo dramático acha-se no diálogo das duas mulheres, tentando Ester convencer Laura de que seria melancólico e futuro, se levasse avante o propósito de casar-se com o filho. A razão recomenda a Laura a renúncia. O que nos parece hoje de uma curiosa ingenuidade é a revelação de Ester. Ela diz claramente que não suportaria uma ligação do filho com outra mulher. O complexo de Édipo do jovem já estaria claro no interesse por Laura.
Outro texto de implicações incestuosas é Sonata ao Luar. Dessa vez, é o pai que não deseja o casamento da filha. Para não repetir a situação de Renuncia, aqui o pai abdica da intransigência primitiva e acaba admitindo o matrimonio. O adágio da Sonata ao Luar, pontilha a aclamação do verso, imperturbável na rigidez pateta e solene. Depois da Morte – Numa Nuvem – Jesus – Os Inconfidentes – A duvidosa inspiração literária condena a existência cênica do teatro de Goulart de Andrade.

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