segunda-feira, 16 de junho de 2008

Machado de Assis


Feitas as mais diversas ponderações, é forçoso concluir: as peças de Machado de Assis (1839-1908) não apresentam grandes qualidades em si. Tivesse o autor cultivado apenas o teatro, seu nome seria absolutamente secundário na literatura brasileira. Quanto ao crítico teatral este foi possivelmente a maior autoridade que tivemos no século XIX.
Machado de Assis não teve autêntica vocação para o palco. O anátema proferido por Quintino Bocaiúva, “as tuas comédias são para serem lidas e não representadas. No entanto, foi à dramaturgia a primeira ambição literária do autor de Quincas Borba.
O interesse maior de Machado de Assis pela linguagem dramática enraíza-se nos anos da juventude, correspondendo sobretudo à década de sessenta, quando se registrou no Rio de Janeiro uma especial febre cênica. Se o germe do teatro nunca o abandonou de todo, diluiu-se com o tempo a ação que exerceu sobre a sua personalidade. Ao cronista de acontecimentos diários não podia passar despercebida a tentativa de afirmação de uma cena brasileira, no momento em que experimentava seus primeiros passos na imprensa. Pela tradução de obras que agitaram o público francês ou pelo escrito de originais, Machado fazia-se presente e atuante num setor capaz de empolgar os contemporâneos.
Não houve, em sua época, outros dramaturgos muito mais bem sucedidos? Concluir-se-á, melancolicamente, que não progrediu a literatura dramática brasileira.
As virtudes das comédias machadianas prendem-se sempre a negociações: não têm mau gosto, não se entregam a exageros, não admitem melodramaticidade. Temerosas de ultrapassar os limites das conveniências literárias, enclausuram-se em atmosfera de meios tons, onde respirariam ridículos os arroubos românticos. Tão tímidas se mostram de experimentar o hausto largo que se encolhem propositadamente no fôlego comedido.
Peças são simples exposição de uma idéia espirituosa, um provérbio com feitio moral, uma sentença que, por ser conclusiva, solicita antes um pequeno entrecho. Assim, o autor de Quase Ministro enveredou para as composições de circunstância, cujas fronteiras ele próprio lamentava.
As situações das peças urdiram-se com poucos elementos, numa intriga quase simplória a desvendar. Contudo, machado não foi primário na dramaturgia. A graça leve que inoculou na trama, o espírito observador e de tênue ironia que introduziu no diálogo salvaram o seu teatro do lugar comum, cabendo-lhe o epíteto de simples, sem incorrer propriamente em primarismo.
O ambiente burguês que retratou lhe exigiu reações pacatas, recursos pouco romanescos e linearidade na trama. Quase nenhum autor dispensou como ele as complicadas peripécias, sustentando a ação apenas pelo diálogo. O estilo do cotidiano, formado mais dos pequenos hábitos do que dos gestos excepcionais.
Talvez, a intenção de Machado: permanecer em território neutro, longe de choques decisivos. Uma tranqüila lição encerra cada peça. A mulher que se guia pela conveniência e não pelo ímpeto do coração vem a ser castigada. O primo do “quase ministro”, apaixonado por cavalos, aproveita o desfecho da história para moralizar. “Um alazão não leva ao poder, mas também não leva à desilusão”.
Suas qualidades mais ponderáveis impeliram-no às sondagens introspectivas, que se dão mal no palco. O exercício da síntese que fez na dramaturgia aplicou magistralmente no conto, que por muitos aspectos se aproxima da peça em um ato, sem obrigações de utilizar o homem inteiriço. A dramaturgia contenta-se com os ensaios cênicos. Os tipos são simples, definidos numa ação linear, distantes das paixões mais ardorosas que poderiam abrir-lhes perspectivas amplas, e ainda assim desenham-se, no mais das vezes, com sutileza que faz supor lutas íntimas.
Se o matrimônio sintetiza o anseio de afirmação amorosa e sentimental, deveriam em torno dele se tecer as tramas. Machado só o desconhece quando, ao escrever comédias de circunstância em que é proibido a presença feminina, precisa buscar outro centro de atração. É o que se verifica em Quase Ministro onde o protagonista desempenha uma das funções para Machado mais representativas: a política. A política é a profissão do homem adulto, vencedor. Nela as personagens masculinas se realizam publicamente, na plena consciência dos direitos que a sociedade lhes confere.
Artur Azevedo Nara que a Proclamação da República mortificou França Júnior, sobretudo porque foi deportado o imperador nesse “mau estado”, encenou-se em maio de 1890 sua última comédia. Portugueses às Direitas, inspirada na questão anglo-portuguesa. “ A peça, uma das mais espirituosas do autor do Direito por linhas Tortas , desgostou a colônia portuguesa.
O Dote poucos meses depois numa estação de águas, em Poços de Caldas, expirava França Júnior. França Júnior compôs umas poucas comédias deliciosas, que figuram em qualquer antologia do nosso teatro de costumes. No terreno político, ele fixou certos ridículos brasileiros melhor do que ninguém. Escreveu, mais próximas de nós, pelo sabor realista, prestam-se a remontagens, que não se tornam rotineiras em virtude do nosso desconhecimento do passado. Como se Fazia um Deputado, Caiu o Ministério! Sustentam França Júnior, como o fixador do teatro de costumes no Brasil.

3 comentários:

  1. Após ler o livro Panorama do Teatro Brasileiro, estou tentando ver na internet algum artigo com visões críticas sobre a nossa história, mas infelizmente tenho me deparado com plágios.Que triste.

    ResponderExcluir
  2. Esse blog foi parte de um curso de história do teatro brasileiro oferecido por mim em uma escola de teatro no Rio de Janeiro. Funcionou e ainda funciona como um facilitador para a troca de conteúdo entre os alunos. É evidente que o "Panorama do teatro brasileiro" é um dos "nortes" da bibliografia desse curso, - que aliás, é citada no box, ao lado dos artigos. Portanto, há textos resumidos literalmente dos livros, assim como também há material original.

    ResponderExcluir
  3. Em que escola do RJ é oferecido esse curso?

    ResponderExcluir