segunda-feira, 16 de junho de 2008

Laivos intelectuais de Coelho Neto


A obra de Coelho Neto não se confinaria ao simbolismo, e, numa perspectiva atual, inclinam-nos a considerar a parte que se filiou a essa escola a mais frágil, incapaz de resistir a uma crítica objetiva. Cultivou também o escritor a comédia tradicional brasileira, foi até a farsa, talvez, entre as três dezenas de peças que produziu, as melhores sejam aquelas em que inoculou nas comédias de costumes um sabor mais intelectual, nascido da experiência idealístico-simbolista. Escapou ai da farsa para equilibrar-se numa região fronteira do drama.
Pelo Amor! poema dramático em dois atos, a ação na Escócia, em fins do século XII. O conde retorna moribundo ao castelo,, porque o cavalo se despencou num valo. Só a feiticeira Samla poderia salvá-lo. A condessa, descobrindo que o marido era amante da bela solitária, apunhala-se e deixa que ele morra.
A história, artificial e dura mas longas falas, só podia inspirar a Artur Azevedo a paródia Amor ao Pêlo .
A ação legendária de Saldunes. Não fica atrás, em Lês Mystères Du Peuple, de Eugene Sue – afirma o autor – encontrou a semente do drama.
Pode conseguir melhor rendimento cênico, o ato Ironia. No camarim, a atriz recebe homenagens de admiradores, durante um intervalo, enquanto em casa o filho arde em febre. A mãe vem dizer-lhe que o menino a chama, e que morrerá dali a pouco. O empresário não admite que a representação seja interrompida. O êxito de uma carreira depende da acolhida nessa primeira noite, e o público aplaude a peça com gargalhadas. O espetáculo precisa continuar. A atriz agradando daquela forma a platéia, dilacera-se em tragédia pessoal.
A Muralha, em três atos, inclui uma dedicatória ao critico Araripe Júnior, autor de um ensaio sobre Ibsen: a peça tem uma nítida presença ibseniana. No texto brasileiro, marido e sogra conspiram para atirar a mulher nos braços de um homem rico que os salvaria da ruína financeira. A mulher, presa ao conceito de honra, apela para o próprio pai. Este, fraco diante das convenções sociais, recomenda-lhe que permaneça ao lado do marido. Desamparada por todos. A mulher, numa atitude de libertação que se aparenta à de Nora, em Casa de Boneca, decide partir.
Muito boa a intenção do autor, pena que a dramaticidade se perca no discursivo
Neva ao Sol, dramalhão em quatro atos.
A Bonança. – O Dinheiro, peça em três atos. – O Intruso – A Cigarra e a Formiga,
A Cigarra, a moça que tem vários namorados, não se prende a nenhum seriamente, e por certo esbanjará a mocidade naquela brincadeira fútil. A outra, a formiga, recebe um pedido de casamento. A jovem que se guarda tem o prêmio dado ao pudor e ao recato. A lição não é das mais interessantes.
Os raios-X, representado em 1897, parece escrito por um Martins Pena que se atualizou pelas sessões espíritas e pelo jogo do bicho. Os Espíritos são convocados para inspirar o palpite do dia.
O Relicário – Fim de Raça – O Diabo no Corpo – A Mulher.
Passou em julgado que a melhor peça de Coelho Neto é Quebranto, escrita especialmente para a Companhia do Teatro da Exposição Nacional, dirigida por Artur Azevedo na famosa temporada de peças brasileiras, em 1908.
Quebranto parece-nos uma síntese feliz das várias tendências do dramaturgo.
A presença do rico seringueiro Furtuna no seio de uma família carioca, disposta a explorá-lo, tem tudo do esquema comum do gênero. No caso, a promoção social do velho amazonense se prende ao casamento com a jovem Dora, por quem ele se apaixona e que aceita sem maiores delongas a proposta.
Também de 1908 data o Sainete Nuvem,
A comédia Fogo de Vista, estreada em 1923(o elenco incluía,entre outros, Jaime Costa e Dulcina de Morais, dois nomes que marcaram o nosso palco atual. O Patinho Torto(em três atos.) – A Farsa Sapatos de Defunto – O Tango – A Guerra – o Pedido.

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