domingo, 28 de abril de 2013

BETTE DAVIS E A MÁQUINA DE COCA COLA, 10/12/2012

Muito interessante a peça. O texto de Jo Bilac e Renata Mizhary, é um baita pretexto para os atores, entre eles, meu querido Cesar Amorim, brilharem. A direção do Diego Molina, também preenche superbem, as vezes, com humor negro, as vezes com um humor débil (a cena do coelho é maravilhosa, assim como a cena final do tearo contemporâneo e o monólogo interminável da atriz (excelente, aliás e muito, mas muito parecida no jeito e no humor, com a Camila Nhary), com uma variedade grande de estilos. Lembra o humor do "Quantos atores cabem num fusca?" que nós fizemos entre 2004 e 2006. O Diego Molina tem com o Cesar Amorim, uma relação diretor/ator rara e importante de se preservar.

Figuras Amarelas, 30/10/2012

Domingo, finalmente entendemos o que é um espetáculo para aquela faixa etária de 0 a 3 anos. FIGURAS AMARELAS, além de ser um lindíssimo espetáculo de dança contemporânea, baseado na obra dos Gêmeos (artistas plásticos/grafiteiros paulistanos e cosmopolitas), é de uma força impactante para com esses pequenos pimpolhos a quem chamamos bebês. Os meus gêmeos "enlouqueceram" e, durante quase toda a apresentação eles dançaram junto, rolaram no chão, quicaram na cadeira e no final aplaudiram muito e quiseram muito subir no palco. Não sei o que entenderam ou apreenderam daquela experiência, mas sei que temos ido muito ao teatro e apesar deles adorarem, em nenhuma das vezes que fomos eles interagiram tanto.

O banqueiro anarquista, 23/03/2013

- Meu amigo, eu já lho disse, já lho provei, e agora repito-lho... A diferença é só esta: eles são anarquistas só teóricos, eu sou teórico e prático; eles são anarquistas místicos, e eu científico; eles são anarquistas que se agacham, eu sou um anarquista que combate e liberta... Em uma palavra: eles são pseudo-anarquistas, e eu sou anarquista. E levantamos-nos da mesa. O "Banqueiro anarquista", em cartaz no Teatro Serrador é um conto, com ares de filosofia com estrutura estática platônica, escrita pelo gênio da literatura portuguesa Fernando Pessoa, transposto para o teatro com grande habilidade pelo Fernando Lopes Lima, o Fernandão. Uma grande ironia do Pessoa, que cria um diálogo situado em um ambiente desembaraçado num destes clubes tradicionais, costumeiramente alheios aos debates intelectuais ou políticos. Depois de um jantar, um banqueiro rico emaranha, com o seu raciocínio complexo e paradoxal, um ingênuo e servil interlocutor. A partir daí, o que se vê é uma lição iconoclasta e de extrema ironia sobre o que este banqueiro julga ser o verdadeiro anarquismo, do qual se declara inventor e partidário fervoroso. A peça é ótima, José Karine, tem um domínio meticuloso das palavras, controlando a ironia, o humor, conduzindo o público com maestria. Peter Boos e Raphael Manheimer, o seguem de perto com registros bem diferentes. O cenário, a luz, a trilha e a duração seguem o tom equilibrado que a direção imprimiu. O Banqueiro Anarquista é um tratado didático sobre filosofia política, disfarçado de teatro, habilmente dirigido. Merecemos vê-la em cartaz por mais tempo. Edvard Vasconcellos

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Morada dos ossos, 23/04/2013

"Lá fora o Sol ainda brilha sobre Lisboa", seria um belo título, que talvez aproximasse mais o público da triste e emocionada peça MORADA DOS OSSOS, em cartaz no Solar de Botafogo, aos sábados e domingos, as 18h. Uma história densa e bem escrita, talvez, curta demais, mas bem executada, bem cantada, poética, bela maquiagem, bela luz, com figurino estranho, com interessantes elementos de cena. O cachorro é uma obra de arte, investir nisso aliás, seria uma aposta cenográfica bem mais instigante e ousada. É uma cena árida, triste e melancólica, como um fado, sem muitos coloridos, mas muito dolorida, angustiada. Com pouco humor, mas é difícil tirar humor de algo tão devastador quanto a solidão. A peça parece que fala de uma pessoa, mas num belo "golpe teatral", nos fala de outra. Um narrador que é a vida, um cachorro multiplicado e todo o resto que remete a morte. Ainda assim, é bonito de se ver, de se ouvir. E nessa luta inglória, passiva e de final inexorável a morte vence a vida na história que nos é contada, mas a vida vence a morte na história que é vivida, e é simples: a vida não sucumbe à morte, porque há esperança. A peça dói sim, como um fado, como uma facada na barriga, como a morte de alguém, mas no fim, como uma brisa leve, passa a esperança e alimenta o Sol que ainda brilha sobre o céu de Lisboa. A solidão não é só um estado de espírito, é o destino daqueles que teimam em deixar para morrer por último. Mas se engana quem supõe que deixar a vida antes dos outros é solução para alguma coisa, pelo menos é o que eu suspeito. Bela peça, difícil também, em todos os sentidos.