sexta-feira, 26 de abril de 2013

Morada dos ossos, 23/04/2013

"Lá fora o Sol ainda brilha sobre Lisboa", seria um belo título, que talvez aproximasse mais o público da triste e emocionada peça MORADA DOS OSSOS, em cartaz no Solar de Botafogo, aos sábados e domingos, as 18h. Uma história densa e bem escrita, talvez, curta demais, mas bem executada, bem cantada, poética, bela maquiagem, bela luz, com figurino estranho, com interessantes elementos de cena. O cachorro é uma obra de arte, investir nisso aliás, seria uma aposta cenográfica bem mais instigante e ousada. É uma cena árida, triste e melancólica, como um fado, sem muitos coloridos, mas muito dolorida, angustiada. Com pouco humor, mas é difícil tirar humor de algo tão devastador quanto a solidão. A peça parece que fala de uma pessoa, mas num belo "golpe teatral", nos fala de outra. Um narrador que é a vida, um cachorro multiplicado e todo o resto que remete a morte. Ainda assim, é bonito de se ver, de se ouvir. E nessa luta inglória, passiva e de final inexorável a morte vence a vida na história que nos é contada, mas a vida vence a morte na história que é vivida, e é simples: a vida não sucumbe à morte, porque há esperança. A peça dói sim, como um fado, como uma facada na barriga, como a morte de alguém, mas no fim, como uma brisa leve, passa a esperança e alimenta o Sol que ainda brilha sobre o céu de Lisboa. A solidão não é só um estado de espírito, é o destino daqueles que teimam em deixar para morrer por último. Mas se engana quem supõe que deixar a vida antes dos outros é solução para alguma coisa, pelo menos é o que eu suspeito. Bela peça, difícil também, em todos os sentidos.

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