segunda-feira, 16 de junho de 2008

Pinheiro Guimarães


De Pinheiro Guimarães (1832-1877) constituiu um dos maiores sucessos do palco, na segunda metade do século passado, a História de uma Moça Rica, também pertencente à numerosa descendência brasileira de A Dama das Camélias. As intenções são as melhores possíveis. O olhar é de compreensão e simpatia pela mulher, vítima perene de uma sociedade regida pelo tirano arbítrio paterno.
A “Moça Rica” tem uma inclinação espontânea pelo primo Henrique, nascida de reminiscências infantis, que os dois trazem a tona num diálogo. Atravessam, sob a proteção dele, um rio perigoso, o jovem salvou-a de um cão e colheu numa árvore perigosamente, um parasita. Amélia está prestes a corresponder à jura do amor de Henrique, e é interrompida pelo pai, que expulsa de casa o sobrinho pobre.
Passam-se quatro anos e ela está casada com Magalhães. Henrique, falecera na batalha de Monte-Caseros. A união fora o atendimento da última vontade do pai, e o marido nem esconde a repulsa que lhe vota. Diante de uma cena com a criada, em que Magalhães se coloca ostensivamente ao lado desta. Amélia resolve fugir com o cortejador, desautorizado até aquela hora a alimentar qualquer esperança. Numa confissão altissonante, ela explica seu gesto: “Desejo sair de cabeça erguida, à vista de todos: não é uma mulher que deixa seu marido: é uma vítima que foge do algoz – Partamos!”.
A partida é de Pernambuco para o Rio, mas o destino não se torna mais risonho com a mudança. Abandonada, Amélia chega a pedir esmola, e recebe até duas moedas do antigo amante, que se casou com “uma menina rica manchada por uma falta”, revoltou-se então contra a sociedade que a repelia e insultava e jurou vingar-se dos homens; ... e transformou-se logo em grande cortesã, tendo a seus pés os mais diversos apaixonados.
Amélia pede a Roberto, o amigo solícito, que tome sob a sua proteção a filha que teve,e revela que vai a caminho do hospital. O ato não podia terminar sem que Roberto chegasse à boca de cena para invectivar: “Vieira! Vieira! Eis o que fizeste de tua filha!”.
A última parte da peça coloca Amélia na província, vivendo pacatamente no seio de uma família. Roberto lhe entregará a filha, desde que se certifique da mudança dos hábitos da amiga. Frederico propõe de novo casamento a Amélia (o marido morreu e “até diz-se que envenenado pela escrava com quem se amancebara”), mas, rígida na moral, ela o dissuade: “O senhor é homem; e um homem se regenera e purifica: a mulher nunca! A nódoa que uma vez a poluiu é eterna; nem todas as suas lágrimas, nem todo o seu sangue a podem lavar”. A pecadora arrependida abraça a menina e conclui a peça: “Feliz,muito feliz! Madalena só teve os braços da cruz para se abrigar, eu tenho os de minha filha”.A grandiloqüência melodramática, feita de patetismos hoje ridículos, é o tributo ao qual não escapou nenhuma obra do gênero. Aí fica um exemplo revelador da peça do agrado geral, na segunda metade do século XIX.

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