segunda-feira, 16 de junho de 2008

Álvares de Azevedo


Álvares de Azevedo, não chegou propriamente a escrever uma peça, mas uma “tentativa dramática”, Macário, que vale a pena registrar pelos lampejos excepcionais, pela promessa de uma obra cênica admirável, e prova da versatilidade de um poeta que se inclui entre as nossas primeiras figuras literárias.
O sonho põe Macário diante de um Desconhecido com quem ele dialoga. É a forma de quebrar a digressão erudita daquele adolescente saturado de leituras e de idéias, querendo exprimir a sua confiança atônita sobre o mundo. Amor, mulheres, filosofia, verdade – sobre tudo Macário tem uma palavra, encharcada do desvario romântico de seus modelos literários. O Desconhecido é Satã e Macário, na garupa de um burro preto em que o companheiro está montado, inicia a sua peregrinação por paisagens diversas, cujo teor abstrato pode ser apenas, como numa cena, “ao luar”. Macário, diante da falta de resposta aos reclamos fundamentais, tão denunciadores do romantismo desenfreado, conclui que “a filosofia humana é uma vaidade”.
O segundo episódio passa-se na Itália, pátria adotiva de tantos românticos, e a descontinuidade formal está mais patente. Num vale, com montanhas e um rio torrentoso, Macário encontra Penseroso cismando, e o diálogo guarda as mesmas características anteriores do debate de idéias.Outras meditações conservam cunho semelhante. Desabafo de um adolescente cheio de talento. Na cena final, Satã se dispõe a levar Macário a uma orgia. “a embriaguez é como a morte”, Satã quer purgar Macário da paixão suicida e lhe diz: “Ainda não saboreaste a vida e já gravitas para a morte. O que te falta? Oiro em rios? Eu te darei. Mulheres? Tê-la-ás, virgens, adúlteras ou prostitutas. O amor? Dar-te-ei donzelas que morram por ti, e realizem na tua fronte os sonhos de seu histerismo. Que te falta?” Em troca daquela alma inquieta, Satã promete a Macário, qual Mefistófeles a Fausto, a posse do mundo.

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