domingo, 13 de setembro de 2009

CRÍTICA DO ESPETÁCULO: Ou Hamuretsu




Dramaturgia: Marcio Moreira
Com: Cia dos Atores invisíveis
Dir: Marcio Moreira

Um espetáculo de imagens extraordinárias e ritmos oscilantes, em que a atuação de Kátia Jorgensen tem grande destaque.
Assim como, também tem destaque os figurinos e a maquiagem, muito interessantes, sobretudo a dos atores Pedro Naine, Kátia Jorgensen e Paula Larica que desenvolveram pesquisas evidentes de uma das bases do espetáculo: O teatro Kabuki. Aliás, uma característica muito interessante do teatro atual, que vem perdendo sistematicamente espaço nas casas de espetáculos da cidade do Rio de Janeiro para os chamados Stand’up comedy, é a incidência, quase vertiginosa, de múltiplas referências, exigindo do espectador uma visão de mundo ampla e sofisticada, como por exemplo: o teatro Kabuki, o próprio Hamlet e o teatro invisível de Yoshi Oida. Além de, em planos de menor importância, as relações pessoais entre um coveiro (Rangel...) assumidamente gay e um outro que não se assume(Rubens Moreira). Um caso meio disfarçado entre o diretor e uma das atrizes, uma competição velada entre as duas atrizes principais e “amigas”. Enfim, parece haver uma história paralela para cada par de atores, mesmo os hilários Rozenkrantz e Guildersterns (Natalia e ...).
No entanto, as atuações oscilantes, o que dificilmente deixa de acontecer em elencos jovens e grandes. O fato é que alguns atores parecem inteiros em seus papéis de atores/personagens, ao passo que outros parecem interessados somente em suas cenas, e passam muitas vezes na peça como espectadores sem nenhuma expectativa. Pois aí parece residir um detalhe da direção que chama muita atenção e poderia chamar muito mais caso houvesse maior coesão por parte do elenco: é preciso ser personagem o tempo todo, mesmo quando se está efetivamente em cena como personagem ensaiando Hamlet e quando se é o ator discutindo ou simplesmente não fazendo nada. Aliás, nunca se está em cena fazendo nada. É tarefa do ator sempre preencher os vazios da cena.
Em Ou Hamuretsu fica clara uma intenção/tensão de construir um espetáculo que a partir do Hamlet, de Shakespeare, consiga discutir o teatro contemporâneo sem nenhum pudor de deixar o texto clássico um pouco de lado, apesar das analogias permanentes, como o diretor/Rei Cláudio, a amante do diretor/Rainha Gertrudes, ou o diretor deposto/fantasma (numa participação comovente, sobretudo para os estudiosos de teatro, do grande mestre/ator Yoshi Oida) que, na verdade servem de “costura” para o desenvolvimento da trama. Uma trama que, diga-se de passagem, tem diversas tramas paralelas, no melhor estilo shakespeareano.
Interessante também é a demonstração de elementos importantes do teatro Kabuki, pouco conhecido do público brasileiro, mas muito popular no Japão, mas falta um pouco desse elemento surpresa tão interessante que é o kabuki, no gestual da maioria dos atores, ao menos quando eles estão encenando/ensaiando a peça.
De ruim só a intervenção infeliz da trilha sonora do espetáculo na sala vizinha, que mostra mais uma vez, que assim como em outros espaços com diversas salas de espetáculos, falta muito para o Rio de Janeiro ter centros culturais com salas de espetáculos apropriadas para espetáculos simultâneos. É isso!




Edvard Vasconcellos.

Um comentário:

  1. Depois da loucura da primeira temporada, pude ler com calma a sua crítica...
    Adorei! Obrigada.
    Beijos, Paula Larica (ou Laura ou Laertes...)

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