domingo, 20 de março de 2011

Sobre teatro e Clandestinos


Bom é pouco! O espetáculo Clandestinos serve de pretexto para se falar sobre essa multidão de jovens que desejam ser atores, pois cada vez mais se deseja ser ator no mundo, contraditoriamente, cada vez menos nos aparecem atores verdaeiramente apaixonados pelo teatro. Talvez, porque cada vez mais se quer ser “ator”, “atriz”, “estrela”, “celebrity” e outros, mas, se lançar ao desafio do palco parece que se tornou algo ultrapassado. O negócio é fazer cinema e TV porque ninguém é de ferro e o sucesso lava a alma e adoça os bolsos. E todo mundo pode filmar com a câmera do seu celular.
A primeira e mais lógica (?) atitude de um aspirante a ator, ou celebridade (hoje em dia é difícil estabelecer com clareza uma distinção entre ambos) é vir para a cidade maravilhosa, a abençoada terra da Vênus platinada, casa da Família Marinho: a Rede Globo; que agora tem competição acirrada bem no seu quintal, com a presença Universal dos bispos Macedo e outros, entre tantos astros da Record. A emissora aliás, adota uma clara estratégia de confusão no público, ao criar produtos idênticos, com atores saídos da vizinha Rede Globo, assim como roteiristas e técnicos. Como se não bastasse isso, as duas emissoras residem na mesma rua, a, hoje, já não tão distante Estrada dos Bandeirantes.
O ator é testemunho vivo das mudanças da sociedade, e sabe-se lá que mudanças estão por vir, mas é fato que as novas tecnologias nos alçam a novos vôos artísticos. Já não há mais espaços para determinismos absolutos e irreprimíveis, há hoje, todo tipo de teatro e todo tipo de teatro deve haver. E o próprio teatro não me parece mais a casa única do ator. Aquele velho discurso de que só é ator quem passou pelo palco cai por terra quando se pensa em uma Glória Pires, e mesmo em uma ou outra celebridade de plantão que “estoura” em um reality qualquer, faz novela e vai bem, obrigado. Dizem, sei por ouvir dizer, por ninguém menos que uma Bibi Ferreira, que, La Galisteu, a rainha da Paulicéia Desvairada, é uma atriz de primeira, o mesmo pode-se dizer de uma Marília Gabriela, de uma Grazi Massafera e de uma Bárbara Paz (que apesar de ter ganhado a primeira edição da Casa dos Artistas, já fazia teatro no grupo Tapa. Mas o fato é que sua vida mudou, e muito, depois daquela invenção do Silvio Santos).
No caso da peça de João Falcão, originada em uma oficina badaladíssima no extinto Teatro Glória (alô Eike Batista, teatro tem seu valor e o Teatro Glória faz parte dos melhores capítulos da história do Teatro Carioca), a solução foi dar voz às experiências verídicas ou não de jovens atores vindos de todos os lugares do país. A montagem, simples e delicada, tem a sutil poesia dramática de João Falcão (que assinou, entre outras coisas o genial A Máquina, responsável por “lançar” no mercado atores como Wagner Moura, Vladimir Brichta, Lázaro Ramos e Gustavo Falcão) que, apesar de hoje ser muito mais conhecido como diretor de teatro e televisão, é, sem nenhuma dúvida, junto com sua mulher Adriana Falcão, um dos maiores dramaturgos dessa “nova dramaturgia” brasileira.
Os Clandestinos são ótimos, jovens e maduros, o que é raro. E, se é claro que as cenas foram nitidamente escritas para que cada um deles tenha seus quinze minutos de fama, é igualmente claro que esses quinze minutos vão ser muito mais do que uma peça de teatro, o que já seria o suficiente. Vem aí seriado na Globo e, quem sabe Clandestinos, o filme. O resultado final é um espetáculo alegre, que diverte, emociona e faz pensar.

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